Saída precoce, ovais, rali e Lotus: a 'volta por cima' de Raikkonen na F-1

Poucos campeões que deixaram a Fórmula 1 tiveram sucesso quando decidiram retornar à categoria. Os casos mais emblemáticos, para melhor, são os de Niki Lauda e Alain Prost, que conquistaram títulos quando deixaram a aposentadoria de lado. A antítese do austríaco e do francês pode ser exemplificada pelos casos de Nigel Mansell e Michael Schumacher, que pouco fizeram quando voltaram a competir, deixando a F-1 de vez sem despertar o interesse de time algum. Kimi Raikkonen, sem dúvida, está mais para o primeiro grupo do que para o segundo. Tanto que, quatro anos depois de ser dispensado pela Ferrari, retorna à escuderia cheio de moral.
kimi raikkonen Ferrari gp do BRasil 2007 (Foto: Agência Getty Images)Campeão pela Ferrari em 2007, Kimi Raikkonen voltará à Ferrari em 2014 (Foto: Agência Getty Images)
O anúncio de que substituirá Felipe Massa é, de fato, uma espécie de “volta por cima” para o finlandês. Que, neste período de quatro temporadas, viveu de tudo um pouco. Da aposentadoria forçada ao fim de 2009 às aventuras no Mundial de Rali, passando por um imprevisível retorno à F-1 como piloto da Lotus – uma aposta que alguns duvidaram que pudesse dar certo. Depois de vencer corridas e até brigar pela liderança do campeonato nas duas temporadas pelo time preto e dourado, Kimi virou a peça-chave do mercado de pilotos. De piloto renegado a objeto do desejo, cujo nome foi cogitado para ocupar em 2014 os cockpits de RBR, McLaren, Ferrari, além da própria Lotus. No fim das contas, a opção foi voltar ao time pelo qual faturou seu único título, em 2007, formando uma dupla explosiva com o bicampeão Fernando Alonso.
kimi raikkonen Ferrari e luca di montezemolo gp do Bahrein 2009 (Foto: Agência Getty Images)Relação entre Kimi e o presidente da Ferrari não
terminou bem em 2009 (Foto: Agência Getty Images)
Retorno inesperado
Mas a volta de Kimi Raikkonen à Ferrari não deixa de ser surpreendente. Afinal, sua saída de Maranello, ao fim de 2009, não foi das mais amistosas. Preparando-se para receber Fernando Alonso, que trazia consigo um grande patrocinador, o time analisou os desempenhos do finlandês e de seu então companheiro, Felipe Massa, e decidiu manter o brasileiro. Não foi por acaso: após faturar o campeonato em sua temporada de estreia pela Ferrari, em 2007, o "Iceman" passou a ter desempenhos irregulares, e foi superado sistematicamente por Massa, que brigou pelo título até a curva final no ano seguinte, perdendo a taça por apenas um ponto. Além do mais, havia reclamações de parte do corpo técnico de que ele pouco ajudava no desenvolvimento do carro.
Sem contar que o estilo “meio desligado” do finlandês não agradava à cúpula da montadora. Raikkonen nunca se preocupou muito com os compromissos extra-pista, como entrevistas com a imprensa internacional e eventos com patrocinadores. No GP da Malásia de 2009, enquanto os pilotos aguardavam dentro de seus cockpits que a chuva desse uma trégia para retomar a prova, Kimi abandonou o carro e apareceu no box de bermuda e chinelos, pegando um picolé na geladeira.
Curtindo a vida adoidado
Dois anos após comemorar o título, mostrando que poderia ser mesmo o sucessor de Michael Schumacher, o “Homem de Gelo” saiu de cena pela porta dos fundos. Com contrato ainda vigente, o finlandês foi dispensado e ficou recebendo salários ao longo de 2010, mesmo sem correr. Era o fim precoce de um carreira que parecia ter muitos anos pela frente quando a relação entre o piloto e a equipe começou. Se Kimi ficou triste com a situação, não aparentou. A partir daquele momento, a mudança na rotina virou sinônimo de curtição para o competidor, então com 29 anos.
Raikkonen na etapa da Nascar (Foto: Getty Images)Raikkonen disputou uma etapa da Nascar na categoria de Nelsinho Piquet (Foto: Getty Images)
Com liberdade para curtir a vida, Kimi passou a experimentar de tudo um pouco. Fez testes na Nascar, e participou de uma prova na Truck Series, categoria na qual o brasileiro Nelsinho Piquet corria na época. Embora tenha raspado o muro na estreia, ganhou 16 posições no oval de Charlotte. Mas os ovais norte-americanos não traziam emoção suficiente, e ele trocou o asfalto pelas trilhas.
Em um passo ousado para alguém que vinha das competições de monopostos, Kimi foi disputar o Mundial de Rali pela equipe júnior da Citroën, antes de criar seu próprio time. Da mesma forma que demonstrou sua velocidade pura nas pistas de terra, cascalho e gelo,sofreu diversos acidentes. E chegou a ser multado pela direção do WRC por não comparecer a uma etapa e sequer dar satisfações. Para ele, pouco importava. Afinal, só estava ali pelo prazer de pilotar e desafiar limites.
Raikkonen com seu carro no Mundial de Rali (Foto: Getty Images)Raikkonen com seu carro no Mundial de Rali, onde passou quase dois anos (Foto: Getty Images)
Dois anos depois, a volta ao paddock da F-1
O retorno à Fórmula 1 aconteceu em um momento de completa renovação na equipe Renault, que dispensou o brasileiro Bruno Senna e o russo Vitaly Petrov ao fim de 2011 e passou a se chamar Lotus a partir do ano seguinte. Diante do exemplo de Schumacher, que se esforçava para brigar por posições intermediárias em seu retorno às pistas pela Mercedes, Raikkonen não se fez de rogado e chegou logo mostrando serviço. Ganhou dez posições em sua primeira corrida pela equipe, e foi ao pódio na quarta participação. Algo que ele faria ainda mais seis vezes durante o ano, incluindo uma vitória incontestável em Abu Dhabi. Foi terceiro colocado no Mundial, atrás somente da RBR do campeão Sebastian Vettel e da Ferrari de Fernando Alonso.
Kimi Raikkonen no treino do GP da Austrália (Foto: Reuters)O excelente retorno de Kimi Raikkonen à F-1, com a Lotus, contrastou com a volta apagada de outro campeão, Michael Schumacher, que sofreu para mostrar competitividade a bordo da Mercedes (Foto: Reuters)
Fora das pistas, no entanto, ele se mostrava o mesmo Raikkonen de sempre. Foi flagrado dormindo antes de uma entrevista, e levou um tombo ao tentar saltar um alambrado em um estacionamento (imagem que virou hit na Internet, com inúmeras montagens). Ainda admitiu às gargalhadas, em um programa de TV, que fraturou o pulso ao cair com uma moto de neve quando já estava assinado para voltar à F-1 pela Lotus. Os temerários treinos de motocross também não foram deixados de lado. Como piloto, no entanto, o bom e velho Raikkonen estava melhor do que nunca.
Kimi Raikkonen lotus pódio GP da Austrália (Foto: Agência Reuters)Pela Lotus, Kimi voltou a vencer, e faturou o GP da
Austrália de 2013 (Foto: Agência Reuters)
De renegado a peça-chave do mercado
Aos 33 anos, Kimi tornaria a vencer na abertura da temporada 2013, abrindo de vez os olhos dos times adversários. Desde então, foram mais cinco pódios, sempre em segundo lugar. Seus desempenhos consistentes também se tornaram um espetáculo à parte. Antes do abandono na Bélgica por uma falha nos freios, ele havia estabelecido o novo recorde de GPs consecutivos na zona de pontuação, com nada menos que 27 corridas completadas entre os dez primeiros. Além de rápido, Kimi provou nesta nova fase ser também um piloto regular, capaz de poupar o equipamento e escapar de confusões.
Ironicamente, este perfil ao mesmo tempo constante e agressivo despertou o interesse da Ferrari, equipe que o havia dispensado quatro anos antes. Substituindo Felipe Massa, o finlandês retornará em 2014 ao time para fazer dupla com o mesmo Fernando Alonso que catalisou sua saída há quatro anos. E ninguém duvida que o status intocável de primeiro piloto conquistado pelo espanhol já está com os dias contados.
Com a chegada de Raikkonen, a Ferrari muda de filosofia e troca o bom ambiente dos últimos anos por um maior potencial de resultados. Se os pontos e vitórias compensarão a troca, ainda é cedo para dizer. Porém, se alguém apostava que a força política de Alonso não permitiria uma contratação deste quilate, a chegada de Kimi mostra que o finlandês já começou a incomodar.
Kimi Raikkonen e Fernando Alonso (Foto: Getty Images)

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